O possível

Juan Manuel Guerrera
4 min readSep 11, 2023

«Seu rosto tinha sido deformado por acaso ou destino, mas ainda era ela.»
Peter Epr, ao evocar seu treencontro tardio com felicidade.

Senti uma atração incontrolável pelas duas desde o primeiro momento em que as vi, muito antes de começar a falar com elas. Pareciam e se moviam como se fossem uma, em harmonia que se não natural, parecia ter sido construída ao longo dos anos. Precisava me aproximar delas, em todos os planos possíveis. E desta vez, ao contrário de muitas outras, meu desejo não se limitou à simples imaginação de um homem, quando a comodidade ou a insegurança finalmente se impõe, mas estava completamente determinado a levar minhas fantasias para o terreno da realidade.

As praias tailandesas paradisíacas forneciam o contexto ideal. O espírito de férias, liberdade, aventura, sentia-se em cada centímetro da ilha onde o destino nos reunia durante o mesmo e curtíssimo espaço de tempo. O sol esmagador despia os corpos, os bronzeava e os transpirava. O descanso nos enchia de energia e a ameaça do fim nos levava a liberá-la sem especulações.

Elas eram holandesas, um grande argumento, inclusive suficiente. Seus nomes, Hannah e Inge, reforçavam isso. Elas eram lindas, embora não tanto a ponto de serem inacessíveis. Uns dois anos mais velhas, uma diferença que me habilitava e até me comprometia a uma ousadia maior. Finalmente, supus que a busca por novas experiências foi o que as trouxe aqui. Como quase sempre acontecia.

Minha identidade latina encaixava-se perfeitamente nesse cenário e não hesitei em acentuar os estereótipos que — eu sabia — iriam passar em seus pensamentos. Isso era ainda mais importante no momento da impressão inicial, então quando me aproximei pela primeira vez, na praia, fui despreocupado e sorridente, mas também determinado. A conversa e a noite avançaram rapidamente. Não perdi a oportunidade de fazer brincadeiras sobre suas belezas e sua maioridade. Me convidaram para jantar, convite que interpretei como uma recompensa pelo meu desenvolvimento.

Hannah deu um golpe nas minhas intenções quando mencionou tardiamente a existência de seu namorado. Recuperado, decidi não dar muita atenção a esse tipo de declaração que tantas vezes se revelou uma mera formalidade, uma etiqueta necessária para o fluxo da conversa social.

Os dias seguintes só trouxeram emoções intensas, ou seja, felicidade. E até por um momento, pude esquecer dela, que estava tão longe. Percorremos a ilha de bicicleta, visitando cada um dos seus recantos. Tomamos banho em cada uma das praias secretas; quando a situação permitia, nus. E todas as tardes nos juntamos às partidas de vôlei que duravam até o pôr do sol, junto com outros viajantes que vinham dos cantos mais distantes do mundo, com seus traços e idiomas exóticos.

Num jogo em que perdíamos o controle sem muita preocupação, nos seduzíamos lenta e silenciosamente, com a sugestão implícita e mentirosa de que nada de concreto aconteceria.

Eu realmente as desejava e deixei esse desejo transparecer de forma transparente sempre que tive a oportunidade de fazê-lo. Livres, meus instintos se inclinaram para Hannah, equilibrando o vínculo complexo que nós três, conscientemente ou não, estávamos construindo.

Foi uma tarde, caminhando juntos, que Hannah me confessou sua insatisfação com a vida que a esperava na Holanda. Uma tentação acessível quando nos encontramos rodeados por palmeiras e águas fosforescentes. A escutei com atenção, alimentando seu desabafo, e compartilhei com ela minha visão sobre o assunto, uma de minhas obsessões. Pensei que a tinha comovido, e sabia, neste momento com certeza, que ela me desejava.

Os poucos dias pareceram semanas, e o fim da aventura compartilhada começou a se aproximar. A proximidade emocional e física tornou-se indisfarçável. Um sentimento natural de nostalgia precoce foi adicionado ao já denso coquetel de sensações que crescia em nós. Aproximava-se o momento das definições e, embora não falássemos abertamente sobre isso, todos podíamos senti-lo.

Naquela noite, a última, dividimos duas garrafas de um delicioso vinho na praia, sob a proteção de um mar calmo e milhares de estrelas. Depois de uma longa conversa e um longo silêncio que disse tudo, eu às beijei, primeiro Hannah e depois Inge. Esses beijos foram puro sentimento. As carícias se desfizeram em intensidade e o eterno calor tailandês começou a se tornar insuportável.

Então, de repente, enquanto eu beijava Inge, Hannah soltou minha mão, levantou-se em um movimento e nos deixou. Sem interromper Inge, que não se incomodava com a partida da amiga, tentei entender o que estava acontecendo. Os beijos de Hannah, ainda frescos em mim, me fizeram saber que as respostas deveriam ser encontradas em sua cabeça e não em seu coração. Talvez o namorado, talvez Inge, talvez ambos.

Com dificuldade, parei Inge por um momento e tentei convencê-la a ir em busca de Hannah. Mas sua única resposta, corporal e silenciosa, foi a determinação de ocupar firmemente o vazio que sua amiga acabara de deixar. Rendido à energia de sua oposição, entreguei-me à consumação incompleta de nossa relação triangular. Quando a permanência naquela praia se tornou insustentável (uma solidão imperfeita, uma escuridão insuficiente), decidimos caminhar para o sul, onde esperávamos encontrar a intimidade que a distância costuma proporcionar.

Chegamos ao ponto em que a praia se extinguiu. Só ali encontramos as sombras e a tranquilidade que procurávamos. Havia uma grande parede cinzenta, algumas pedras e um pouco de grama. O lugar era o menos gracioso de todos que percorremos para chegar àquele canto esquecido, mas às vezes a beleza tem a forma do que é necessário.

Naquela praia agonizante, com o mesmo mar ao nosso lado e sob as mesmas estrelas, recomeçamos o nosso ritual de beijos. Nós nos amávamos como se fosse a primeira ou a última vez — de fato, eram — enquanto, sem dizer isso, pensávamos em Hannah.

Quando o amanhecer começou a raiar, nos levantamos e nos vestimos. De mãos dadas, voltamos para o apartamento onde Hannah poderia estar dormindo. Ao chegar, sempre do lado de fora, despedi-me de Inge com um longo beijo cheio de contradições que me encheu o peito de angústia. Me viu ir embora e lhe dar um último beijo à distância antes de virar a esquina. Então, incapaz de conter as lágrimas, caminhei sem rumo até meu hotel.

Traduzido por Luca Dutra
dutraluca11[at]gmail.com
Versão original (em espanhol)

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Juan Manuel Guerrera

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