O possível
«Seu rosto tinha sido deformado por acaso ou destino, mas ainda era ela.»
Peter Epr, ao evocar seu treencontro tardio com felicidade.
Senti uma atração incontrolável pelas duas desde o primeiro momento em que as vi, muito antes de começar a falar com elas. Pareciam e se moviam como se fossem uma, em harmonia que se não natural, parecia ter sido construída ao longo dos anos. Precisava me aproximar delas, em todos os planos possíveis. E desta vez, ao contrário de muitas outras, meu desejo não se limitou à simples imaginação de um homem, quando a comodidade ou a insegurança finalmente se impõe, mas estava completamente determinado a levar minhas fantasias para o terreno da realidade.
As praias tailandesas paradisíacas forneciam o contexto ideal. O espírito de férias, liberdade, aventura, sentia-se em cada centímetro da ilha onde o destino nos reunia durante o mesmo e curtíssimo espaço de tempo. O sol esmagador despia os corpos, os bronzeava e os transpirava. O descanso nos enchia de energia e a ameaça do fim nos levava a liberá-la sem especulações.
Elas eram holandesas, um grande argumento, inclusive suficiente. Seus nomes, Hannah e Inge, reforçavam isso. Elas eram lindas, embora não tanto a ponto de serem inacessíveis. Uns dois anos mais velhas, uma diferença que me habilitava e até me comprometia a uma ousadia maior. Finalmente, supus que a busca por novas experiências foi o que as trouxe aqui. Como quase sempre acontecia.
Minha identidade latina encaixava-se perfeitamente nesse cenário e não hesitei em acentuar os estereótipos que — eu sabia — iriam passar em seus pensamentos. Isso era ainda mais importante no momento da impressão inicial, então quando me aproximei pela primeira vez, na praia, fui despreocupado e sorridente, mas também determinado. A conversa e a noite avançaram rapidamente. Não perdi a oportunidade de fazer brincadeiras sobre suas belezas e sua maioridade. Me convidaram para jantar, convite que interpretei como uma recompensa pelo meu desenvolvimento.
Hannah deu um golpe nas minhas intenções quando mencionou tardiamente a existência de seu namorado. Recuperado, decidi não dar muita atenção a esse tipo de declaração que tantas vezes se revelou uma mera formalidade, uma etiqueta necessária para o fluxo da conversa social.
Os dias seguintes só trouxeram emoções intensas, ou seja, felicidade. E até por um momento, pude esquecer dela, que estava tão longe. Percorremos a ilha de bicicleta, visitando cada um dos seus recantos. Tomamos banho em cada uma das praias secretas; quando a situação permitia, nus. E todas as tardes nos juntamos às partidas de vôlei que duravam até o pôr do sol, junto com outros viajantes que vinham dos cantos mais distantes do mundo, com seus traços e idiomas exóticos.
Num jogo em que perdíamos o controle sem muita preocupação, nos seduzíamos lenta e silenciosamente, com a sugestão implícita e mentirosa de que nada de concreto aconteceria.
Eu realmente as desejava e deixei esse desejo transparecer de forma transparente sempre que tive a oportunidade de fazê-lo. Livres, meus instintos se inclinaram para Hannah, equilibrando o vínculo complexo que nós três, conscientemente ou não, estávamos construindo.
Foi uma tarde, caminhando juntos, que Hannah me confessou sua insatisfação com a vida que a esperava na Holanda. Uma tentação acessível quando nos encontramos rodeados por palmeiras e águas fosforescentes. A escutei com atenção, alimentando seu desabafo, e compartilhei com ela minha visão sobre o assunto, uma de minhas obsessões. Pensei que a tinha comovido, e sabia, neste momento com certeza, que ela me desejava.
Os poucos dias pareceram semanas, e o fim da aventura compartilhada começou a se aproximar. A proximidade emocional e física tornou-se indisfarçável. Um sentimento natural de nostalgia precoce foi adicionado ao já denso coquetel de sensações que crescia em nós. Aproximava-se o momento das definições e, embora não falássemos abertamente sobre isso, todos podíamos senti-lo.
Naquela noite, a última, dividimos duas garrafas de um delicioso vinho na praia, sob a proteção de um mar calmo e milhares de estrelas. Depois de uma longa conversa e um longo silêncio que disse tudo, eu às beijei, primeiro Hannah e depois Inge. Esses beijos foram puro sentimento. As carícias se desfizeram em intensidade e o eterno calor tailandês começou a se tornar insuportável.
Então, de repente, enquanto eu beijava Inge, Hannah soltou minha mão, levantou-se em um movimento e nos deixou. Sem interromper Inge, que não se incomodava com a partida da amiga, tentei entender o que estava acontecendo. Os beijos de Hannah, ainda frescos em mim, me fizeram saber que as respostas deveriam ser encontradas em sua cabeça e não em seu coração. Talvez o namorado, talvez Inge, talvez ambos.
Com dificuldade, parei Inge por um momento e tentei convencê-la a ir em busca de Hannah. Mas sua única resposta, corporal e silenciosa, foi a determinação de ocupar firmemente o vazio que sua amiga acabara de deixar. Rendido à energia de sua oposição, entreguei-me à consumação incompleta de nossa relação triangular. Quando a permanência naquela praia se tornou insustentável (uma solidão imperfeita, uma escuridão insuficiente), decidimos caminhar para o sul, onde esperávamos encontrar a intimidade que a distância costuma proporcionar.
Chegamos ao ponto em que a praia se extinguiu. Só ali encontramos as sombras e a tranquilidade que procurávamos. Havia uma grande parede cinzenta, algumas pedras e um pouco de grama. O lugar era o menos gracioso de todos que percorremos para chegar àquele canto esquecido, mas às vezes a beleza tem a forma do que é necessário.
Naquela praia agonizante, com o mesmo mar ao nosso lado e sob as mesmas estrelas, recomeçamos o nosso ritual de beijos. Nós nos amávamos como se fosse a primeira ou a última vez — de fato, eram — enquanto, sem dizer isso, pensávamos em Hannah.
Quando o amanhecer começou a raiar, nos levantamos e nos vestimos. De mãos dadas, voltamos para o apartamento onde Hannah poderia estar dormindo. Ao chegar, sempre do lado de fora, despedi-me de Inge com um longo beijo cheio de contradições que me encheu o peito de angústia. Me viu ir embora e lhe dar um último beijo à distância antes de virar a esquina. Então, incapaz de conter as lágrimas, caminhei sem rumo até meu hotel.
Traduzido por Luca Dutra
dutraluca11[at]gmail.com
Versão original (em espanhol)